Redescobrir-se longe de casa: os desafios emocionais da imigração e o caminho para o pertencimento
Migrar é mais do que atravessar fronteiras, é atravessar a si mesmo. Trocar de país pode significar recomeçar do zero: uma nova língua, uma nova cultura, novas relações e, muitas vezes, a desconstrução de quem se é para se tornar algo ainda indefinido.
Nesta conversa com a psicóloga Marta Berglez, parceira do Movimento do Otimismo, falamos sobre o impacto emocional da imigração, o “luto migratório” e as estratégias para reconstruir o sentimento de pertencimento sem perder a própria identidade.
Viver um luto silencioso
Para Marta, o ato de migrar traz, sim, um tipo de luto, mesmo que ele nem sempre seja nomeado. “Passamos por várias fases: o encantamento com o novo, a empolgação inicial… Mas, aos poucos, a rotina se impõe, surgem os desafios e muitos se perguntam se fizeram a escolha certa”, explica.
Esse processo pode gerar ansiedade intensa, tristeza profunda e até depressão, especialmente quando o imigrante não encontra espaço para falar sobre suas dores ou não se sente acolhido no novo ambiente.
Segundo a psicóloga, o luto migratório envolve múltiplas perdas: da língua, da cultura, dos vínculos afetivos e até da própria noção de quem se é. “Migrar não é só mudar de país. É também ser colocado em uma nova posição diante da vida. Uma nova identidade está em construção”, afirma.
Essa reconstrução exige tempo, acolhimento e autoconhecimento, é um processo profundo de redescoberta.
Como se adaptar sem se perder
Muitos imigrantes sentem a pressão de se “encaixar” na nova cultura, o que pode gerar conflitos internos e até uma sensação de culpa por deixar para trás as próprias raízes. Para Marta, o equilíbrio está na busca por integração, não substituição.
Ela propõe participar de grupos locais, praticar esportes, entrar em clubes de leitura ou ações voluntárias, além de investir no aprendizado do idioma. “Estes são caminhos para criar conexões e compreender melhor o novo contexto, sem abrir mão de quem se é”, reforça.
Biculturalidade confortável: o lugar onde você escolhe viver
A ideia de um “lugar perfeito” dá lugar ao conceito de biculturalidade confortável, no qual o indivíduo reconhece as riquezas e limitações de ambas as culturas e aprende a conviver com elas de forma mais leve e consciente.
“É entender que existem lugares em que escolhemos viver apesar de, e que podem, aos poucos, se tornar o nosso novo lar”, explica Marta.
A sensação de não pertencimento pode ser desafiadora, mas não precisa ser permanente. “Conectar-se com pessoas que compartilham experiências semelhantes é uma forma poderosa de acolhimento”, orienta a psicóloga.
Marta também recomenda a terapia intercultural, que ajuda a reorganizar a identidade pessoal, relacional e social em um novo contexto. “É um convite para olhar para dentro, redescobrir habilidades, valores e paixões, depois, olhar para fora e seguir em direção ao que se quer construir.”
Recomeçar também é um ato de coragem
A imigração pode ser uma travessia solitária, mas também pode ser o terreno fértil para um novo florescer. Cuidar da saúde mental nesse processo é essencial para transformar ruptura em possibilidade, dor em descoberta e saudade em força.
Toda semana é uma nova oportunidade de cuidar de si, com leveza, movimento e partilha. Em Portugal, o Movimento do Otimismo convida você para as nossas caminhadas coletivas às quartas-feiras, um momento para mexer o corpo, respirar fundo e renovar as energias ao lado de pessoas inspiradoras. E às terças-feiras, abrimos as portas da nossa sede para rodas de conversa, onde o acolhimento e a troca de experiências fortalecem a saúde emocional. Vem caminhar, conversar e florescer com a gente.